Dengue afeta também o cérebro e a medula
Doença pode provocar paralisia facial e perda do movimento das pernas
LUIZ COSTA
Lideranças comunitárias estão à disposição como voluntários
Além dos sintomas clássicos como moleza no corpo, febre alta e manchas avermelhadas no corpo, a dengue pode provocar outros tipos de danos à saúde pouco conhecidos da população. A infecção provocada pelo mosquito Aedes aegypti pode atingir, tanto na forma clássica quanto na hemorrágica, o cérebro e a medula. Segundo a neurologista coordenadora do departamento de Líquido Cefalorraqueano da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Marzia Puccioni-Sohler, a chamada dengue neurológica pode apresentar como sintomas paralisia facial e até mesmo perda dos movimentos dos membros inferiores.
O doente ainda costuma sentir dor de cabeça, desorientação, agitação e irritabilidade. Não há um fator conhecido que desencadeie essa variante da dengue. “É uma doença infecciosa e, em alguns casos, durante sua fase aguda, o vírus causador da infecção pode atingir o líquido cefalorraquiano e ir para o encéfalo e medula espinhal”, explica Marzia.
Especialistas alertam para a necessidade de ampliar o leque de informações para a população. Projeções do governo do Estado apontam para a infecção de 500 mil pessoas ao longo de 2011, o dobro do ano passado.
As principais formas de manifestação da dengue neurológica são a encefalite, meningocefalite, a meningite e a síndrome de Guillain-Barrè, doença caracterizada por uma desordem na qual o sistema imunológico do corpo ataca parte do sistema nervoso periférico. Ainda de acordo com Marzia Puccioni-Sohler, os sintomas dependem da localização da infecção do vírus no encéfalo ou na medula. A infecção pelo vírus da dengue pode ser ocasionada por quatro diferentes sorotipos. As pesquisas identificaram problemas neurológicos apenas nos sorotipos 2 e 3, ambos em circulação no país.
Tratamento tardio leva a distúrbios graves
Médicos pedem à população que busquem atendimento imediato assim que perceber os sintomas da dengue. A demora no tratamento pode levar a distúrbios graves. Na visão, explica o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, de Campinas, o vírus pode afetar o segmento posterior dos olhos e a retina, a membrana que transmite imagens para o cérebro. “A pessoa pode ter hemorragia na parte branca do olho, mesmo em quem não teve dengue hemorrágica”, explica. O problema decorre de uma reação do sistema imunológico.
Segundo Neto, a aparência vermelha nos olhos impressiona, mas os sinais desaparecem em algumas semanas. Porém, se a pessoa apresentar dores e visão turva, ela deve procurar um oftalmologista imediatamente.
Lideranças pedem apoio
Lideranças comunitárias das regiões Norte e Nordeste de Belo Horizonte se colocaram à disposição da Secretaria Municipal de Saúde como voluntários no combate à dengue. Ontem, representantes de associações de bairros e ONGs se reuniram com o secretário-adjunto Fabiano Pimenta para pedir apoio em infraestrutura.
Pimenta ouviu as demandas dos voluntários e alegou estar pronto para aceitar a parceria. Em um primeiro momento, o município irá fornecer panfletos de mobilização, que serão distribuídos nas comunidades mais afetadas pela doença.
Belo Horizonte tem 374 casos suspeitos de dengue notificados desde o início do ano. Oito foram confirmados, 42 descartados e 374 estão pendentes, mas o número de vítimas do Aedes aegypti pode chegar a 550, assim que exames que estão em laboratório tiverem o resultado divulgado.
“É importante envolver a comunidade no combate à dengue. O poder público não dá conta sozinho”, disse a servidora pública Grace Mirvânia da Silva, voluntária pela ONG Força Alternativa Social Popular.
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